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quarta-feira, 7 de julho de 2021

CPI DA COVID

 CPI da Covid ouve Roberto Dias, ex-diretor do Ministério da Saúde acusado de pedir propina

Ele foi exonerado do cargo em junho após denúncia de que teria solicitado acréscimo de US$ 1 por dose de vacina em contrato


O ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias é ouvido na CPI da Covid nesta quarta-feira (7). Ele foi exonerado do cargo em junho após denúncia de que teria pedido propina de US$ 1 por dose de vacina da AstraZeneca em negociação. Dias nega a acusação.

 

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PEDIDO DE PROPINA  

O suposto esquema envolvendo Dias foi revelado pelo policial militar Luiz Paulo Dominguetti, que se diz representante da empresa Davati Medical Supply. Em oitiva na comissão ele confirmou ter recebido a proposta ilegal de Dias ao oferecer 400 milhões de doses do imunizante ao Ministério da Saúde.   

"[Dias disse] que a vacina, naquele valor [US$ 3,50], não seria feita a aquisição pelo Ministério. A conversa começou assim: 'Olha, nós temos que melhorar esse valor'. Aí, eu disse: 'Mas eu tenho que tentar um desconto, eu não tenho [como dar desconto]'"
LUIZ PAULO DOMINGUETTI
à CPI da Covid

"[Ele respondeu] 'não, mas não é [para baixo]. É para cima, é para mais'. E, aí, se pediu [a propina], porque se tinha que compor dentro do Ministério, e se pediu o acréscimo de US$ 1 por dose. Eu, já de imediato, já disse que não teria como fazer", completou Dominguetti.  

Ao portal G1, a empresa Davati Medical Supply negou que o cabo da PM seja representante do empreendimento no Brasil e admitiu que não tem convênio com a AstraZeneca. O laboratório ainda afirmou que não possui empresas privadas como representantes e que só vende imunizantes contra a Covid para governos e organismos multilaterais.  

TRAJETÓRIA NO MINISTÉRIO DA SAÚDE  

Dias resistiu as trocas de três ministros, e ao pedido para sua demissão, que havia sido encaminhado em outubro de 2020 pelo general Eduardo Pazuello ao Palácio do Planalto.  

O servidor público, porém, foi exonerado em 29 de junho, horas após o jornal Folha de S.Paulo publicar a entrevista de Luiz Paulo Dominguetti Pereira.  

Dias comandava, desde janeiro de 2019, uma das áreas mais cobiçadas por partidos políticos no Ministério da Saúde, que é responsável por pagamentos de cerca de R$ 10 bilhões anuais para compra de medicamentos e outros insumos.  

O valor nas mãos do ex-diretor disparou na pandemia. Apenas em 2021, o Departamento de Logística empenhou mais de R$ 30 bilhões, principalmente para a compra de vacinas contra a Covid-19. Esse quantitativo representa, por exemplo, cerca de três vezes o orçamento total aprovado para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.  

DEPOIMENTO  

Na oitiva desta quarta-feira, os senadores desejam conhecer a versão de Dias sobre o suposto pedido de propina e destrinchar dúvidas sobre a aquisições da pasta durante a pandemia, especialmente a da vacina indiana Covaxin.  

Dias reconhece o encontro com Dominguetti em um restaurante de Brasília, mas nega ter conversado sobre a venda de vacinas e cobrado propina. Em nota, ele ainda disse que pode ter sido usado como "fantoche para algo".

'NADA ACONTECE SE O ROBERTO NÃO QUISER'  

Os requerimentos para a convocação de Dias foram apresentados pelos senadores Humberto Costa (PT-PE) e Otto Alencar (PSD-BA). Nos pedidos, os parlamentares querem esclarecer também o suposto envolvimento de Roberto Ferreira Dias em irregularidades na compra de outro imunizante: o indiano Covaxin.  

Segundo Costa, Dias assinou um “contrato bilionário” para a compra da vacina, o que vem sendo investigado pela CPI.   

A existência de denúncias de irregularidades em torno da Covaxin foi revelada pela Folha de S.Paulo no dia 18 de junho, com a divulgação do depoimento sigiloso do servidor da Saúde Luis Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal.  

Esse mesmo servidor e o irmão, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), falaram na comissão parlamentar que alertaram o presidente Jair Bolsonaro sobre as supostas irregularidades.  

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o deputado Miranda contou que Dias é quem dá as cartas no setor das compras do Ministério da Saúde. "Nada ali acontece se o Roberto não quiser." 

FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE